terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Adopção Gay – “claro que não”

    “Adopção gay chumbada pela quarta vez com os votos da direita” foi o título de uma notícia desta semana. Que decepção ao ver a publicação com um titulo tão deprimente quanto este. Não porque está mal escrito ou porque a abordagem não é a melhor, mas pela ridicularidade do conteúdo. E a culpa não é de quem a escreveu. Nem de quem a publicou.
     Este tema é de tal forma intrigante e revoltante que tenho medo dos adjectivos que me possam surgir para caracterizar algumas pessoas e também os seus valores. No entanto, não deixo de respeitar aqueles que vergonhosamente se orgulham de ser homofóbicos, que aparentam um medo de sabe-se lá o quê, como se a homossexualidade fosse uma doença terminal e altamente contagiosa. E acrescento, sou obrigada, porque a minha educação exige, a respeitar ainda, e também, a ignorância que faz com que estes entediosos chamem a uma orientação sexual "diferente", uma doença. 
    E diferente porquê? Porque a sociedade não cresce, não evoluí. Quanto muito cresce em tamanho, em número, mas não em valores, em inteligência, em humanidade. Diferente porque a sociedade ainda vive preocupada com o que os outros pensam, dizem ou falam. Preocupam-se mais com a reputação do que com a consciência. E que escândalo uma criança ter duas pessoas do mesmo sexo a amá-la, educá-la e incutir-lhe valores. Que escândalo maior do que a criança dizer na escola que não conhece os pais porque foi abandonada à nascença por um motivo que lhe é alheio, ou ainda, que escândalo maior do que ser uma criança maltratada, como tantas que há por aí. Ah, mas isso é normal. Isso é dar educação. E a educação só pode ser dada por duas pessoas heterogéneas, se não pode ser gozada, ou seguir os mesmos ideais sexuais dos pais. Ridículo, e vergonhosamente ignorante. 
 Alguns dos testemunhos que minuciosamente estudei para cultivo próprio, a fim de tentar perceber esta sociedade que tão pouco me orgulha, apontavam para o facto da criança crescer num ambiente "estranho" e que a podia levar a ser também, homossexual. Nem sei que vocábulos utilizar para tamanho disparate. Se a linha de pensamento fosse esta, então não haviam homossexuais. Pelo menos a maioria de nós foi criado por uma família, dita pelos conservadores, funcional - normal.
    Funcional é qualquer tipo de família onde haja compreensão, amor, educação, bons valores, felicidade e harmonia. E é tão bom quando sentimos isto. É tão bom quando temos uma família. 
   Enquanto a sociedade viver de aparência, de casamentos de farsa onde o dinheiro fala mais alto e a educação do filho Qualquer coisa Maria for mais importante da porta de casa para fora, do que no seu interior, esta luta nunca passará disso, de uma luta que umas vezes consegue mais medalhas para casa, outras não. Mas um dia quando a sociedade aprender que ser humano exige muito mais que reputação, que interessam mais os valores e a felicidade dos que amamos, ou dos que podemos amar, isto vai deixar de ser uma luta e vai passar a ser uma vitória, onde todos aqueles que pensam, estupidamente, que sabem tomar decisões acertadas só porque vivem num mundo cor-de-rosa que pouco tem para além de burocracias de montra, passarem a olhar a sociedade, o mundo e as pessoas de forma real e perceberem que há muito mais para além do que fica bonito decidir ou não à frente de um país. Que valores mais altos se levantam e que são valores que vingam. 
  Contudo e em modo conclusão, haverá sempre excepções, haverá sempre famílias homossexuais disfuncionais, com problemas, onde a criança pode precisar de ir ao psicólogo. E isso não será anormal. Anormal é pensarmos que isso é anormal. Anormal é uma família onde tudo funciona na perfeição. E é anormal porque a perfeição não existe, independentemente do género ou raça.
A perfeição trabalha-se e quiçá, alcança-se. E isso pode ser conseguido por qualquer um.
    Afinal de contas, todos temos direito aos mesmos sonhos. Porque não aos mesmos direitos?.


Mariana Barros Cardoso.




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